Álbum da Semana | Metá Metá – MM3: o peso e a força da música brasileira
Quando coloco MM3 para tocar, sinto que estou entrando em outro espaço. Não é só música, é presença. Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thiago França entregam algo que é ao mesmo tempo ritual e cidade, ancestralidade e ruptura. Cada faixa tem vida própria, cada som parece carregar uma memória.
“Três Amigos” já deixa claro que não estamos em território confortável. O sax corta o ar com uma tensão que dá arrepio, a guitarra oscila entre o quase silêncio e a explosão, e a voz de Juçara surge como quem conversa com a gente, ora calma, ora urgente. A sensação é de estar dentro de algo maior, que não cabe em palavras.
O disco inteiro mantém essa força. Às vezes é áspero, às vezes hipnótico, sempre intenso. Não há concessões a melodias fáceis; não há refrão que você consiga cantar na primeira vez. É música que exige atenção, entrega. Cada detalhe importa: a respiração, o ruído, o silêncio, o peso do ritmo. É impossível ouvir sem sentir.
O que torna MM3 especial é essa mistura de caos e controle, tradição e liberdade. A gente percebe a ancestralidade do Brasil em cada nota, mas também sente a urgência do agora. É um disco que transforma quem escuta, que deixa marcas, que faz pensar e sentir ao mesmo tempo.
Depois de ouvir, não dá para ser o mesmo. É visceral, humano e intenso. Um disco que gruda na memória e no corpo, um daqueles que a gente lembra anos depois.
Veredito: essencial, poderoso e profundamente humano.