TOSKA: Lirismo irônico de Angélica Duarte brilha no palco do seu novo disco
Disco aposta na fusão de batidas dançantes, letras afiadas e estéticas atuais.
Quatro anos depois do seu disco de estreia “Hoje Tem” (2021), a cantora, compositora e produtora Angélica Duarte apresenta TOSKA (YB Music) e se reinventa, com uma batida eletrônica que mergulha na pop contemporânea.
Evocando o universo da ópera, do título aos elementos visuais, Puccini… perdão, Angelika… perdão, Angélica Duarte desenvolve seu tríptico moderno em 10 canções: tragicomédia lírica de alcova e pista de dança, onde o pop se atreve a usar peruca de ópera e faz disso sua força. Um trabalho que subverte o dourado clássico com o deboche de emojis, erudição e línguas entrelaçadas num só timbre.
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| Angélica Duarte - TOSKA contracapa |
Angélica sempre teve esse raro dom de mordiscar o moralismo, costurando sensualidade e insegurança, doçura e acidez – tudo dito por quem vive de peito aberto, peito dolorido. As novas músicas são atos dessa tragicomédia pop eletrônica: há a dança, há a cama e há a palhaçada. Sob uma produção 100% autoral e caseira, a artista abraça batidas eletrônicas e sintetizadores, mas não esquece a guitarra elétrica que joga sal nas feridas abertas por seu lirismo afiado. O resultado é um disco onde a vulnerabilidade nunca é sinônimo de fraqueza, e nem oposição à ternura.
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A música de Angélica parte de experiências cotidianas – suor de spinning, desilusão amorosa, autoimagem vista pelo espelho do sarcasmo. Mexendo em software e investigando efeitos, transforma sua experiência de arranjadora numa linguagem eletrônica que soa fresca, bem-humorada e dançante. "Barriga de Lanche", o single-manifesto, já anunciava essa virada: é hino para corpos livres, para quem desistiu de caber no jeans skinny, mas não de se sentir inteiro, para quem já cansou de performar perfeição.
As letras são deliciosamente precisas como bisturi: "Day by Day” e “Doida” examinam as fissuras da moral imposta às mulheres; “Vira Lata Caramelo” exalta desejos tropicais suados; “Dolores en mi pechos” ri da TPM. O disco fecha sua segunda parte com a epifania de “Selinho pressaum” e um tributo potente a Hilda Hilst em “GOSTUESSO”, poema e erotismo, camadas de desejo, desconforto e graça.
TOSKA flui entre risos, catarse e lirismo, costurando ironia e ternura tanto no texto quanto na entrega vocal. Angélica sobe ao palco como uma artista completa, que ri da tragédia (e de si mesma) por saber que “o mundo acaba de começar”, toda vez que se atreve a abrir a boca e dançar sobre a própria dor.
