Alessandra Leão e Mestre Sapopemba celebram Exu no EP “Exu Ajuô”
O EP “Exu Ajuô”, de Alessandra Leão e Mestre Sapopemba, reúne seis faixas que transitam entre coco, toques de terreiro e matrizes afro-brasileiras.
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| 📸Credito: José de Holanda / Divulgação |
Tem EP que não se ouvem — se atravessam. Exu Ajuô, de Alessandra Leão e Mestre Sapopemba, é um desses encontros em que cada toque de tambor parece abrir um caminho, um começo. Gravado em São Paulo, mas com alma fincada no Nordeste, o EP é menos sobre estilo e mais sobre presença: Exu, a encruzilhada, o passo dado antes da viagem.
A voz de Alessandra vem firme, terrosa, enquanto Sapopemba responde com tambores que soam como conversa antiga. As seis faixas formam um pequeno rito sonoro — coco, toques de terreiro, rezas, sopros e ecos de mata. Nada é gratuito: cada som tem corpo, cada pausa tem intenção.
Em “A Onça”, é a terra que fala. O canto celebra as tradições do povo Kariri-Xocó, lembrando que a música indígena nordestina não está no passado — ela respira aqui, agora. Já “Navio Brasileiro”, que acompanha Alessandra há quase vinte anos, ganha nova vida ao lado de Sapopemba, com vocais e tambores que soam como lembranças em diálogo.
“Deusa da Lua / Dono da Lua” une dois reisados alagoanos, e o que poderia ser apenas fusão vira afeto — memórias familiares, histórias contadas em roda. E quando “Adeus Dalina” encerra o EP, com o piano de Zé Manoel, há uma sensação de travessia: o fim como recomeço.
Alessandra define o disco como “um mergulho nos fundamentos — o que sustenta a gente como artista e como pessoa”. Sapopemba completa: “Cantar para Exu é reafirmar a paz, o equilíbrio e o respeito ao caminho.”
Exu Ajuô não tenta explicar o sagrado — apenas o escuta. É disco para quem quer sentir o som por dentro, deixar o corpo seguir o toque e entender que cada batida é também um chamado.

