Janine Mathias une samba e rap em álbum poderoso com produção de Rodrigo Campos e participação de Criolo
Em “O Rap do Meu Samba”, Janine Mathias celebra suas raízes e mistura samba, rap e ancestralidade em disco produzido por Rodrigo Campos.
Tem artista que canta, e tem artista que conta. Janine Mathias é das que fazem as duas coisas ao mesmo tempo. Em “O Rap do Meu Samba”, seu segundo álbum de estúdio, a brasiliense radicada em Curitiba transforma a própria história em ritmo — unindo o samba que a formou com o rap que moldou sua visão de mundo.
O disco, produzido por Rodrigo Campos, é cheio de vida e atravessado por afetos. São nove faixas que soam como encontros: com a ancestralidade, com os parceiros de estrada e com a própria trajetória. A cada batida, dá pra sentir o equilíbrio entre força e delicadeza.
Logo nas primeiras faixas, Janine mostra o que quer dizer quando fala em “Rap do meu samba”. Não é sobre fusão de estilos, mas sobre reconhecimento. “Eu quis mostrar de onde vim e quem me construiu. O rap me ensinou a dizer, o samba me ensinou a sentir”, ela explica. A presença de Criolo, na faixa “Barracão é Seu”, amarra essa ideia — ele chega como quem entende o mesmo idioma, só que por outro sotaque.
O repertório costura canções inéditas e releituras de clássicos, como “Deixa Pra Lá”, de Leci Brandão, e a própria “Barracão é Seu”, de João da Gente. As releituras soam frescas, com arranjos que flertam com jazz, pop e até texturas eletrônicas sutis. Rodrigo Campos soube reunir músicos que respiram a linguagem da artista: Dustan Gallas, Zé Nigro, Thiago França, Thomas Harres, Henrique Araújo, Pablo Carvalho e Allan Abbadia — cada um acrescentando um tom, um sopro, um ritmo.
Entre os momentos mais emocionantes, está “Devoção”, lançada antes do disco, que traz Khalil, filho da cantora, no clipe dirigido por Carolina Bassani e Mayara Santarém. Em outra ponta, “Me Enfeita” (de Raissa Fayet) brinca com beats eletrônicos e melodias suaves. Já “Enredo de Angola”, composta por Fernando Lobo, é pura reverência à espiritualidade e à Yalorixá Nívia Luz, um canto de fé em forma de samba.
Mais do que um álbum, “O Rap do Meu Samba” é um abraço. Um disco que não tenta provar nada — apenas existir. Janine Mathias mostra que o samba e o rap não se opõem: eles se reconhecem. E é nesse encontro que a artista encontra, de novo, a si mesma.
