O duo recifense Barbarize — formado por Bárbara Vitória (Babi) e YuriLumin — chega com seu primeiro álbum, MANIFEXTA, um trabalho que não apenas apresenta uma nova voz na música brasileira, mas inaugura um território próprio. É um disco que pulsa, dança e contesta. O sagrado e o eletrônico caminham juntos, criando um som que nasce da lama e do byte, da reza e do grave. Como o duo define, é “música de protesto com glitter na cara”.

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Com produção de Thiago Barromeo, YuriLumin, DJ Luciano Rocha e Itoo, o álbum atravessa gêneros como afrobeat, trap, funk, reggaeton, pop e maracatu, reunindo participações de Fred Zero4 (Mundo Livre S/A), Dada Yute, Xis, Oreia, MC Tchelinho, Lino Krizz, Louise e J Coppa. Cada faixa constrói um pedaço desse manifesto — uma dança entre o digital e o ancestral.

O disco começa com “Exu”, onde a poesia de Iyadirê abre caminhos com reza e força ancestral. Em seguida, “MNFXT” chega como um grito instrumental cheio de distorção e groove — o anúncio de que a festa começou. “Mangue”, com Fred Zero4, é reverência e denúncia: celebra Chico Science e Josué de Castro, mas encara de frente as desigualdades ainda vivas no Recife. “Mundo Gira”, com Dada Yute, vibra em clima de reggae e sabedoria popular, lembrando que tudo retorna — inclusive a esperança.

“AQUITAQUENTE” traduz a temperatura da cidade, um retrato de Recife entre brilho e corte. Já “Oi, Sumido”, com MC Tchelinho, é um flerte em forma de funk leve e divertido. Em “Pararatibum”, Xis transforma o corre de rua em crônica rimada, enquanto “Imagina”, parceria com Oreia, mistura deboche e crítica, mostrando que a ironia também é ferramenta de protesto.

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Na sequência, “DR” encena um diálogo amoroso cheio de humor e teatralidade. “Boom Boom”, com J Coppa, traz o reggaeton quente da pista e celebra o corpo livre, enquanto “Jah Amor”, com Louise, é o momento mais romântico do disco — uma carta aberta ao Recife e seus contrastes. O encerramento, “Mangueboogie”, com Lino Krizz, é pura vibração: groove, brasilidade e pista em comunhão.

Visualmente, MANIFEXTA amplia essa mistura. O duo define sua estética como punk afrofuturista reciclado — um “cybermístico do mangue” onde sucata eletrônica, tintas corporais e signos rituais se fundem. A capa, criada por Jota a partir de uma foto de Ignus, reflete esse conceito: corpos, barro e cabos formando um portal entre o terreno e o digital. Cada música vem acompanhada por visuais — clipes, lyric vídeos e performances — que expandem o universo da obra.

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Mais do que um disco, MANIFEXTA é um chamado à expressão e à resistência. É música feita pra dançar e pensar ao mesmo tempo, pra se curar e provocar. O Barbarize estreia com um trabalho corajoso e cheio de identidade, reafirmando que o manguebeat continua vivo — agora com mais cor, mais glitter e o mesmo desejo de transformação.