“Feitiço”: Bixarte solta o verbo, chama os tambores e entrega um álbum que pulsa território, amor e luta
Bixarte lança “Feitiço”, seu segundo álbum de estúdio, misturando rap, afrobeat, forró e ancestralidade em doze faixas marcantes.
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| Foto: Cley / Divulgação |
O tambor chamando lá no fundo. A voz firme, quase um aviso, quase um abraço. E Bixarte, inteira, mas também ferida, madura, cheia de apetite pra dizer o que precisa ser dito. “Feitiço”, o novo álbum que cheguu nesta sexta (21), parece nascer desse lugar — de dentro, de trás, de antes. Do que ela viveu e do que ela ouviu dos seus. E o disco já chega carregado de sentido: estreia um dia depois do Dia da Consciência Negra, coincidência nenhuma.
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São doze faixas que correm pelo rap (sempre ele, coluna de tudo), mas sem medo de virar o volante pro trap, pro afrobeat, pro forró. Um álbum que avança e volta, que respira quando precisa, que morde quando tem vontade. E que assume o próprio momento de Bixarte, esse intervalo entre se comparar demais e se reencontrar com a própria voz.
A artista até explica, com aquela sinceridade que vem acompanhada de um quase suspiro: depois de “Traviarcado”, ela travou, voltou pra base, pensou. Lembrou por que canta, pra quem canta, o que quer construir com cada batida. E aí escolheu gente que mexe com ela, que mexe com o mundo dela. Isso dá pra sentir.
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Logo na entrada, “Não Foi Sorte” abre o portão com Ayô Tupinambá e uma reverência bonita aos Orixás. Um canto que é força e chão. Depois, “Tentação” coloca o corpo pra jogo com uma mistura que flerta até com a cumbia, mostrando que o tal “nicho” não cola mesmo na obra dela.
“Exu”, com Vó Mera e Emicida, é daqueles momentos que arrepiam — pela firmeza, pelo tom quente, pelo recado atravessando o ar. Bixarte canta como quem tem pressa e calma ao mesmo tempo. Como quem sabe o tamanho do próprio passo.
Aí o disco vai abrindo caminhos: “Máfia” com seu trap de peito inflado; “Gasolina”, onde Monna Brutal chega com a energia da rua; “Calma, Filha”, que traz esse jeito afiado que Bixarte faz parecer fácil; “Ibiza”, um reggaeton misturado ao forró com Lucy Alves que é quase uma convocação pra levantar da cadeira.
A parte dançante continua com “Culpa”, antes da gostosa cumbia de “Como Me Olhas”, ao lado de Johnny Hooker. “Oceano” vira aquele respiro no meio do trajeto, quase um mergulho silencioso. Depois vem “Me Vê”, apaixonada e poética, carregando a herança da artista que já brilhou nos slams, com as participações de A Fúria Negra e Mari Santana. Fecha tudo “Kaô Kabecilê”, eletrônica, urgente, pedindo justiça a Xangô — um fim que na verdade parece começo.
Produzido entre Bixarte e o time da BBS_LAB, com Big Jesi na produção musical e Guirraiz assinando mix e master, “Feitiço” soa como um mapa. Um cruzamento de ritmos, memórias e movimentos que passam pelo país inteiro sem perder o sotaque. Um disco que vibra, que sacode, que chama. Um álbum que, sim, faz jus ao nome: ele encanta mesmo.
