Digo Amazonas e a Multidão estreia seu primeiro álbum ao lado da banda Multidão com um projeto ousado e necessário: “Qual Brasil?”, um manifesto musical que reflete sobre o país sob múltiplas perspectivas — ancestral, social, tecnológica e ambiental. O disco chegou nesta sexta-feira (07), com nove faixas que unem rock pesado, ritmos brasileiros e poesia crítica.

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Gravado de forma totalmente independente entre 2022 e 2024, o trabalho nasceu de um processo de pesquisa que atravessa mais de duas décadas de vivência musical e cultural de Digo. O ponto de partida foi seu trabalho de conclusão de pós-graduação em percussão brasileira, que acabou se transformando em uma poderosa jornada artística.

“Estudar percussão brasileira é estudar a história do Brasil. Conforme fui vivenciando e entendendo as coisas, as músicas foram se revelando e se transformando. ‘Qual Brasil?’ é fruto desse mergulho”, conta o artista.

Inspirado em clássicos como “Que País É Esse?” (Renato Russo) e “Brasil” (Cazuza), Digo Amazonas propõe, décadas depois, uma nova reflexão sobre o que significa amar e compreender o Brasil — especialmente em tempos em que o patriotismo se confunde com ideologia.


Cada faixa é um capítulo de uma narrativa que costura temas como ancestralidade, natureza, redes sociais, tecnologia e resistência cultural. A faixa-título abre o álbum exaltando a diversidade do país, enquanto “Matagal” e “Manifestação Animal” mergulham nas raízes africanas e indígenas, unindo maracatu, côco e rock em um som visceral.

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Em “Adubo Humano”, Digo cita Machado de Assis e convida Íris Apokalypsis para refletir sobre o ser humano no capitalismo e o impacto da inteligência artificial. O interlúdio “+55” resume, em 60 segundos, a evolução das comunicações no Brasil — do telégrafo à internet — e prepara o terreno para “@influencers” e “Algo Rítmico”, faixas que ironizam o culto às redes e transformam o ódio aos algoritmos em um rock polirritmado e provocador.

Em “T.I. (Terra Indígena)”, Digo ressignifica o termo “tecnologia da informação” e o transforma em “terra indígena”, destacando a sabedoria ancestral com a participação de jovens Guaranis do Pico do Jaraguá e cenas do Acampamento Terra Livre. O álbum encerra com “#ChicoMendesVive”, homenagem poderosa ao ambientalista acreano, feita em parceria com sua família e o Comitê Chico Mendes.

Com produção de Digo Amazonas, Rodrigo Ramos e Ivanbatucada, o álbum foi gravado e mixado na Mandril Audio e masterizado no El Rocha, em São Paulo. A capa, assinada por Denis Diosanto, é uma releitura da arte criada por Tarsila do Amaral para o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), conectando passado e presente em uma mesma provocação estética e política.

“Hoje, como há um século, seguimos tentando responder à mesma pergunta: que Brasil é esse? ‘Qual Brasil?’ defende a cultura, o povo e as florestas do nosso país. Eles dizem que amam o Brasil — mas qual Brasil?”, provoca Digo.

Com apenas 21 minutos de duração, “Qual Brasil?” é curto, direto e potente — um álbum que pulsa com o ritmo da resistência e transforma indignação em arte. É um trabalho que reafirma o poder da música como ferramenta de crítica e esperança, e coloca Digo Amazonas e a Multidão entre as vozes mais autênticas do novo rock brasileiro.