A cantora e compositora mineira Elisa de Sena lança seu segundo álbum solo, Orgânica, uma obra que reverencia a ancestralidade, a natureza e a musicalidade das Minas Gerais. Logo na faixa de abertura, Cafuzo, Elisa canta com força e emoção: “Canto mais forte e abro o meu peito negro, nessa Angola deixada nas Minas Gerais”. O verso traduz o espírito do disco — uma celebração das origens africanas, indígenas e populares do Brasil.

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Com dez faixas e uma vinheta, o álbum tem produção musical de Nath Rodrigues e Felipe Pizzutiello, que buscaram reproduzir timbres naturais, apostando em percussões, cordas, sons de sementes e água. Tudo foi pensado para soar vivo e pulsante, como se cada instrumento respirasse junto com a artista.

“Este disco propõe um retorno às raízes. Entender que ser parte é ser o todo”, comenta Elisa, destacando o caráter coletivo da obra, que valoriza as diferenças e a colaboração entre artistas.

Entre as participações especiais, Pedro Luís marca presença em Avenca, parceria que mistura o suingue carioca com o sotaque mineiro. Elisa explica que a faixa brinca com a mistura de águas — o rio e o mar — simbolizando o encontro entre Minas e Rio de Janeiro.

Pedro Morais aparece em uma releitura de Cheiro Mineiro de Flor (Sá & Guarabyra), transformada em um forró vibrante com triângulo e tambores inspirados nos Tambores de Minas de Milton Nascimento. O resultado é uma versão que preserva o lirismo da original, mas com alma mineira e dançante.

Em homenagem às suas raízes, Elisa também gravou Amor de Índio, clássico de Ronaldo Bastos e Beto Guedes, que ganha nova vida com arranjo de Nath Rodrigues. Segundo a artista, a escolha foi intuitiva: “Ouvi na rádio e senti que precisava gravá-la. Tudo fluiu de forma natural. Quando ficou pronta, entendi que seria o single do disco.”

Além de Pedro Luís e Pedro Morais, o álbum traz colaborações de Nego Moura, Manu Ranilla, Alysson e Luísa Nascimento, costurando uma rede sonora de afetos e influências. Elisa cita como referências nomes como Mateus Aleluia, Rosa Passos, Déa Trancoso, Tom Zé, Tizumba e Sérgio Pererê, além de suas parceiras do Coletivo Negras Autoras.

Com “Orgânica”, Elisa de Sena reafirma sua identidade como uma das vozes mais consistentes e sensíveis da nova música mineira. O álbum faz um diálogo direto com seu trabalho anterior, Cura (2019), lançado pelo selo Natura Musical, mas agora com um olhar ainda mais profundo sobre pertencimento, coletividade e o poder transformador da arte.

Mais do que um disco, “Orgânica” é um manifesto poético e sonoro sobre ser parte da terra, do corpo e do todo. É música que nasce da raiz — e floresce no peito.