Em “Quebra-Mundo”, Siso retorna com um single de trânsito entre MPB e jazz alternativo, composto com Luiza Brina e acompanhado de um clipe em P&B .
Foto: Tatyana Schardong / Divulgação

Nas curvas meio tortas de um fim de ano acelerado, Siso reaparece com “Quebra-Mundo” — e não é exagero dizer que a faixa chega como um pequeno terremoto íntimo. Composta por ele em parceria com Luiza Brina, a música abre um caminho curioso: fala de ruínas, de desorientações, mas encontra um tipo estranho de serenidade justamente nesse movimento quebrado, vacilante. E talvez seja aí que esteja sua força. O single sai junto de um clipe em preto e branco dirigido por Tatyana Schardong, ambos chegando nesta quarta (3/12) como parte da rota que leva ao novo álbum do artista, previsto para fevereiro de 2026.


Se antes ele vinha do dueto doce com Tiê em “Sabiá Sabiá”, agora Siso se joga em algo mais expansivo. “Quebra-Mundo” é também o nome do show recente que passou pelo Sesc Pompeia e pelo Sesc Rio Preto, o que reforça a centralidade da faixa dentro desse novo ciclo. O arranjo mistura MPB com um jazz alternativo meio nervoso, meio pulsante, que vai se acomodando aos poucos. Nada grandioso demais, mas cheio de detalhes que pegam o ouvido quando a gente menos espera.



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A história da composição nasceu do reencontro entre dois mineiros que só se aproximaram de verdade em São Paulo. Siso conta que escreveu a letra num surto criativo de fim de 2024 e enviou para Luiza Brina, que devolveu com melodia e harmonia já encaixadas. A parceria se completou depois, no presencial, onde ela trouxe acordes mais complexos, torcendo e enriquecendo o caminho da canção. No fundo, o tema é recorrente na obra dele: reconstruir depois do tombo, olhar para os cacos e enxergar ali alguma direção mais limpa, mais honesta.

Esse jogo de forças aparece direto no arranjo. Um fluxo sonoro que costura o orgânico e o eletrônico, com o órgão e as camadas vocais (dele e de Kika) dando a sensação de algo que tropeça e avança ao mesmo tempo. Uma certa desorientação, mas também uma clareza aguda que surge entre os compassos — quase como se a própria música estivesse tentando decidir para onde ir, enquanto já segue andando.

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O clipe, gravado no centro do Rio e pensado inteiramente em preto e branco, reforça o clima de instabilidade. Tatyana Schardong opta por cortes rápidos, imagens contrastadas, e um Rio que foge completamente daquele cartão-postal habitual. Algo mais sombrio, quase “Gotham City”, tocando em camadas de história espalhadas pelas ruas e prédios que aparecem de relance. Uma cidade que treme, mas que segue erguida — o que, de certa forma, combina com a pulsação da música.

 

“Quebra-Mundo” traz direção criativa e produção executiva de Siso e João Abtibol. A voz de Kika aparece em overdubs gravados por ela mesma. A gravação, mix e master ficam por conta de Alejandra Luciani, e a produção musical leva novamente a assinatura do próprio Siso. Um lançamento que chega sem alarde, mas com um peso particular — desses que ficam rondando a cabeça depois da primeira escuta.