Foto: Tamaris Araújo / Divulgação

Tem estreia fresca no ar — e daquelas que chegam quietas, mas logo começam a ocupar espaço. Josie, artista radicada em Limeira (SP), lançou no dia 26 de novembro, seu primeiro EP: Sensações. Um trabalho pequeno no tamanho, mas enorme no fôlego emocional. Cinco faixas, cada uma apontando para um canto diferente da alma, meio experimentais, meio intuitivas, sempre tentando traduzir o que o corpo sente antes mesmo de formular as palavras.

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A produção é de Léo Ferrarini, que assina também os arranjos e as programações. E dá pra ouvir esse cuidado: timbres sintéticos se cruzando com instrumentos acústicos, clarinetes, percussões quase ritualísticas, cavaquinho, baixo groovado… um mosaico que não tenta se encaixar em algo “limpo”, “certinho”. O EP vai do caos ao respiro, do peso à luz, num ritmo meio irregular — que é justamente onde está seu charme.

Josie já havia apresentado dois singles, “Escuro” e “Luz”, abrindo pistas sobre essa jornada. Mas é só com o EP inteiro que a coisa ganha corpo: introspecção, enfrentamento das próprias dores, o impulso de mergulhar onde dói mais, para então emergir respirando outra vez. “Quis criar um espaço para parar, olhar pra dentro e encontrar ferramentas internas para iluminar a si mesmo”, explica a artista. E o som acompanha essa intenção — orgânico e eletrônico, tudo misturado, tudo buscando traduzir sensações que raramente vêm organizadas.

A história do EP começou lá em 2019, quando Josie, influenciada por entrevistas de artistas que admirava, resolveu escrever músicas guiadas por um tema: sensações emocionais. Da nova MPB (Xênia França, Dora Morelenbaum) a referências mais experimentais como Björk, as inspirações se misturam, mas não se sobrepõem — viram textura, ambiente, caminho.

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Gravado no home studio de Ferrarini, Sensações foi construído como quem monta uma narrativa emocional. Uma pequena sonata em cinco atos. A capa, fotografada por Tamaris Araújo numa represa de Limeira, usa água, terra e folhagens para reforçar o conceito de contato — com o mundo, com o corpo, com aquilo que já estava guardado. A identidade visual, criada em parceria com a Buzz Music Content, segue a mesma trilha.

Foto: Tamaris Araújo / Divulgação


O projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc, via Prefeitura Municipal de Limeira e Ministério da Cultura — um empurrão importante para materializar um trabalho que pede delicadeza.

E, faixa a faixa, a jornada se desenha:

Confusão abre a porta com aquela sensação de mente cheia, saturada. Ostinatos se entrelaçam, timbres eletrônicos se empilham, um baixo puxa o groove enquanto um piano jazz costura tudo. É excesso, de propósito.

Escuro, o primeiro single, entra num espaço mais denso. É o mergulho — aceitar medos, dar nome ao que assusta. Clarinetes, fagote e eletrônicos criam um clima carregado, introspectivo.

Transição talvez seja a síntese do EP. A busca por ferramentas internas. Uma caminhada. Percussão firme, cavaquinho e violão de Rodrigo Sperandio trazendo um frescor orgânico, uma sensação de mudar de pele. A faixa também traz um poema de Cecília Meireles, “Canção Excêntrica”, que amplia o sentido de plenitude buscado ali.

Calmaria soa como um pequeno ritual. A faixa mais etérea, guiada por vozes harmônicas e percussões com referências indígenas, num quase-mantra para desacelerar o peito.

Luz fecha o ciclo num estado de clareza. Tímpanos, eletrônicos, um piano com ecos de “Cais”, de Milton Nascimento. Grandeza sem grandiosidade fake — só uma respiração ampla, limpa.

Sensações é, no fim, um convite simples e difícil ao mesmo tempo: parar, sentir, existir com todas as imperfeições à mostra. E, de alguma forma, sair disso um pouco mais inteiro.