Foto:  Isadora Totaro / Divulgação

Manda resolveu quebrar o silêncio — daquele jeito meio afiado, meio debochado — com Bumbum Mexer, um single que chega quase como um suspiro, ou melhor, como um desabafo que virou música. Depois do impacto gigante deCoragem, dois anos atrás, e da regravação em 2024 com o grupo Clareou, parecia até que a cantora tinha recuado… mas não. Só estava afinando o próprio tom. E agora volta com uma faixa que cutuca a indústria algorítmica com ironia, ritmo e uma pitada de provocação bem calculada.

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“Bumbum Mexer” nasce desse incômodo que todo artista sente quando o mercado começa a apontar o dedo e dizer como a coisa “deveria ser”. A canção acerta em cheio porque não tenta esconder essa fricção. Manda assume o desconforto e o vira poesia — crua, direta, quase confessional. “Parece que o mercado tem uma receita pra dar certo, e o meu jeito de fazer música não está incluído nela”, conta ela. E dá pra sentir isso logo nos primeiros segundos: voz na frente, tambor marcando, um minimalismo que vai crescendo até virar um funk suave, com textura de ironia e sorriso torto.



A pergunta que ecoa no refrão — “Será que vão ouvir o que eu tenho pra dizer / Se eu não quiser rebolar minha bunda?” — não é só verso bonito. É flecha. É a síntese da crítica, dessa dança entre autenticidade e expectativa de mercado que assombra tantos artistas. E a produção acompanha essa ideia, costurada entre o home studio da própria Manda e o de Enzo Martin, produtor de 21 anos que assina os arranjos ao lado dela. O som, apesar de leve, leva uma intenção pesada: cutucar, sem perder a graça.


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A faixa ainda passa pelas mãos de Rudigo Calixto, responsável pela mix e master. Ele se aproximou da artista depois de se emocionar com “Coragem”, o que cria uma linha bonita entre os dois trabalhos — uma troca que reforça esse lado do “é pra tocar de verdade, antes de tudo”.

No visual, Manda segue firme no vermelho que já acompanhava sua estética, mas agora com uma acidez nova: plástico translúcido, um ar blasé, aquele tédio calculado de quem cansou da embalagem padronizada que promete sucesso imediato. “Quis mostrar uma Manda mais madura, mais intencional, e, ao mesmo tempo, debochada”, ela explica. E funciona: a identidade visual conversa com o som, com o desabafo, com a fase.


Foto:  Isadora Totaro / Divulgação

Radicada em São Paulo há três anos, mas carregando o Rio na voz e no jeito livre de cantar, Manda mistura nessa faixa um pouco de cada esquina que já atravessou. O resultado é um single que marca a abertura de uma nova leva de lançamentos — mais segura, mais afiada, mais convicta do tipo de artista que ela é, e principalmente do tipo que ela não quer ser. “Essa faixa é um statement”, diz. E de fato soa como um recado.

“Bumbum Mexer” acaba reafirmando aquilo que “Coragem” já deixava claro: se não for verdadeiro, Manda não tem nem por que entrar na roda.