O The Parking Lots chegou ao fim de 2025 com aquela energia de banda que, enfim, encontrou sua própria voz — e decidiu soltá-la sem muita cerimônia. O clipe de “All The Things”, lançado no começo de novembro, já vinha como aviso de que algo maior estava prestes a aterrissar. Não deu outra: “We The People Are The Parking Lots”, primeiro álbum completo do trio paulistano, saiu no dia 21 e escancara um grupo confortável em expor rachaduras, ironias e aquela inquietação miúda que parece perseguir todo mundo na pós-modernidade.
A formação atual —
Felipe Bueno,
Eduardo Zampolo e
Vini Pardinho — só se firmou em 2024, depois de alguns anos flutuando entre EPs, singles, gravações caseiras, testes e erros. E talvez por isso o disco soe tão vivo, tão direto, quase sem filtro. A banda cava referências no indie rock ruidoso do
Superchunk, puxa o punk melódico do Hüsker Dü, tempera com uma ironia à la Elvis Costello e ainda deixa escapar um lirismo que lembra os Weakerthans. Uma mistura que não tenta ser “exata” demais, e funciona por justamente não ser.
Ao longo das dez faixas, o trio abre pequenos buracos onde dá pra espiar um certo mal-estar urbano — aquele que ninguém nomeia direito, mas sente o tempo inteiro. O álbum já começa batendo com
“Not You, Not Me – Just Late Capitalism”, um garage rock rápido, quase uma cutucada. Lá no meio, aparece um respiro etéreo em “The Light!”, como se a cidade finalmente desligasse por um segundo. E, no final, o manifesto “We Are The Parking Lots”, onde soltam uma daquelas linhas que ficam ecoando por horas: “Algo de novo há de surgir, embora ainda seja impossível dizer o que será.”
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O disco foi gestado ao longo de um ano no
Estúdio Divã da Alma, num processo meio artesanal, meio paciente. A banda assina a produção, e a mixagem/masterização ficou nas mãos de Felipe Bueno e Luciano de Setti. Entre as participações, vale destacar
Isabella Pontes (Schlop) em “Young Punks In The Park”, adicionando uma camada extra de juventude torta ao som. A capa é uma pintura original de
Rafael Ramos, enquanto o clipe de “All The Things” e os lyric videos foram dirigidos por César Passa Mal. As fotos são de
Gabriel Farina — tudo muito dentro daquele universo visual meio granulado, meio espontâneo.
As letras e músicas são todas assinadas por Felipe Bueno, que parece puxar da própria vivência a matéria-prima para falar sobre cansaço, cidade, esperança breve e um certo humor torto que sustenta o disco inteiro. Um trabalho que soa como estreia e, ao mesmo tempo, como declaração de intenções.