O duo Coisa Nossa, duo formado por RAYA e João Mantuano, decidiu marcar o primeiro aniversário do disco de estreia de um jeito que parece quase um retorno às fontes. Um gesto direto, sem muita ornamentação, mas carregado de imagens que falam mais alto que qualquer explicação longa. No dia 30 de novembro, eles abriram oficialmente as comemorações com o lançamento do clipe de “Coisa Nossa”, faixa que também dá nome ao projeto e que funciona como uma espécie de espelho do que o duo acredita ser a espinha dorsal do trabalho: um Brasil visto de perto, vivido por dentro, atravessado por pequenas intimidades e símbolos que constroem o que chamamos de identidade coletiva.
O clipe, dirigido por Dudu Mafra e Mateus Lana, transforma a caçamba de um caminhão — esse ícone de estrada, de deslocamento, de vida que não para — em um grande palco simbólico. É ali que o duo percorre o país, ainda que dentro de um estúdio, carregando cenários, objetos e atmosferas que condensam afetos e referências que, de tão comuns, parecem quase invisíveis no dia a dia. Mas quando colocados juntos, iluminados, passam a contar uma história maior. RAYA e Mantuano já rodaram palcos do nordeste ao sudeste, atravessando oito estados com o álbum lançado pela Toca Discos em parceria com a Universal Music, e esse movimento real fica meio grudado na narrativa visual do clipe, mesmo que ele exista num espaço construído.
A faixa “Coisa Nossa”, que abre o disco, nasce de uma intimidade doméstica — essas cenas miúdas de dentro de casa, café sobre a mesa, conversas jogadas ao acaso, o tempo passando sem pressa. RAYA diz que a música carrega o coração do projeto, justamente porque parte desse lugar de conforto, de observação, e depois se amplia para algo coletivo. Um coro, uma ideia maior, um gesto de brasilidade que não precisa ser grandioso para ser reconhecido. É quase como se a canção fosse do tamanho de uma sala, mas respirasse como um país.
O clipe insiste nessa passagem entre o micro e o macro. Em poucos minutos, surgem um boteco, uma rede, uma sala, um espaço tomado por cocos — todos símbolos que aparecem sem precisar de legenda, porque pertencem ao imaginário comum. A sala é o elo mais íntimo: remete diretamente ao lugar onde a música nasceu, reforçando essa costura entre o que é doméstico e o que é coletivo. João Mantuano comenta que o audiovisual tem esse poder meio ilusionista de revelar a vida com mais profundidade, de brincar com as figuras e representações que a gente naturalmente cria quando pensa no que seriam, afinal, “coisas nossas”.
Cena do Clipe - Coisa Nossa / Divulgação
A caçamba vira casa e vira estrada. Fica entre a raiz e o movimento. E talvez seja justamente isso que define o Coisa Nossa nesse primeiro ciclo: um projeto que nasce do encontro entre duas pessoas, mas que imediatamente abre espaço para um território amplo, cheio de paisagens e afetos reconhecíveis. Ao completar um ano, o álbum volta às suas origens para reafirmar que a força do duo está nessa habilidade de transformar o que é pequeno em algo plural, de amplificar o doméstico sem perder sua delicadeza.
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O duo Coisa Nossa, surgido do encontro entre os dois artistas dentro da Toca do Bandido— estúdio lendário do Rio —, é um desses projetos que crescem rápido, quase naturalmente. Em pouco mais de um ano, já somam cerca de 50 composições. Mantuano traz o repertório de compositor premiado, indicado ao Grammy Latino ao lado de Chico Chico, enquanto RAYA chega com a voz marcante e uma escrita de imagens muito próprias. A estreia com o álbum homônimo passeia do folk às marchinhas, do samba à canção contemporânea, e ganhou ainda mais força quando Ney Matogrosso gravou quatro músicas de RAYA, incluindo uma parceria com João.
O novo clipe, então, funciona quase como um rito de passagem: comemora o que já foi construído, costura o que está em movimento e reafirma um Brasil que é íntimo e coletivo ao mesmo tempo. Um Brasil que não cabe inteiro em cena, mas que aparece nessas pequenas coisas que todo mundo reconhece — e que, juntas, viram Coisa Nossa.
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