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Ouça | Com “Areia e Voz”, Tori sussurra ternura em mundo que grita

Mumbai
Divulgação/Tori por Elisa Maciel

‘Areia e Voz’, novo disco da cantora e compositora Tori, chega dois anos após o lançamento de seu último trabalho de estúdio. Em tempos de excesso e exibição, ela parece agir na contramão: sussurra ternura num mundo que grita. Esse sussurro é gesto político e espiritual. A doçura, longe de ser fuga, é uma forma de resistência: a recusa do barulho é a recusa da brutalidade.

 
Em ‘Discreta Paz’, ela se apresenta ao ouvinte:
Quero transparecer
O tempo de outros tempos
Que ainda em mim teima em viver.
Quero reconfortar, quero enternecer


As 10 canções operam como meditações acústicas sobre o corpo, a água, a passagem do tempo. A cantora integra um núcleo que vai marcar o futuro da música brasileira nos próximos anos, unindo talentos que, criativamente, estão a reler estes momentos em que o futuro chega às nossas vidas, que ainda são também Presente. Passado. E tudo o que podem ser, mesmo que nunca o tenhamos imaginado. O disco também reencontra o Nordeste, como atmosfera. A “voz com areia” é o canto que se mistura à natureza, simultaneamente humana e mineral.

 
O single de lançamento, ‘Ilha Úmida’ é emblemático, situando o ouvinte entre o afogar-se e o descanso, onde sal e mel simbolizam a doçura e a aspereza da existência. Essa ligação à terra e ao corpo não é narrativa exótica, mas um diálogo profundo com a memória e a presença, um gesto que resiste ao tempo e às transformações rápidas desta era de excessos e hipervelocidade…

 

‘Areia e Voz’ representa uma espécie de pouso, um repouso que materializa as paisagens sonhadas para cada canção, como diz a própria cantora. O disco conta com a produção sensível da própria cantora e Domenico Lancellotti, que ajuda a esculpir esse espaço sonoro minimalista onde cada elemento tem seu lugar, valorizadas com participações de Nina Maia, Francisca Barreto, Guilherme Lírio ou Bernardo Bauer (além de Julia Guedes e Toro). Todos fortalecem a rede de afetos e poéticas que orbitam ao redor do disco, inseridos numa cartografia afetiva que conecta Aracaju ao mundo.

 
Tori mostra que a música pode ser um refúgio e uma potência transformadora, capaz de convocar o silêncio e o afeto para sustentar a esperança. Esta cartografia sensorial traduz o sopro vital da areia e da voz, da memória e da paisagem, uma proposta sonora que nos convida a habitar o instante presente com atenção e ternura.
Ahmedabad